terça-feira, 3 de outubro de 2017

Lido: A Buzina de Neblina

Há na nossa espécie uma curiosa atitude de algo que não é bem paixão mas está entre ela, o assombro e o temor, para com os dinossauros. O exemplo mais óbvio dessa atitude é a popularidade alcançada pelo Parque Jurássico, do Crichton, e sobretudo pela sua adaptação cinematográfica, mas há uma vasta quantidade de obras com os dinossauros como tema, inclusive na ficção de língua portuguesa, por intermédio do Gerson Lodi-Ribeiro e da sua série de FC e história alternativa sobre uma civilização de dinossauros.

Ray Bradbury tem também várias obras com dinossauros como protagonistas ou personagens secundárias e algumas são clássicos absolutos da FC. O conto Um Som de Trovão será certamente a melhor dessas histórias, mas este A Buzina de Neblina (bibliografia) não lhe fica muito atrás.

É um conto muitíssimo bem escrito e melancólico sobre a solidão. Acompanha uma noite especial no ano, num farol, partilhada por dois faroleiros, aquele que está de serviço e o que o vai substituir. O faroleiro efetivo introduz o colega a um fenómeno que tem vindo a acompanhar ao longo dos últimos anos sem o revelar a ninguém porque se o tivesse feito ninguém teria acreditado. Porquê? Porque tem a ver com um monstro que surge vindo dos abismos, atraído pela sereia que o farol usa para alertar os navios durante momentos de nevoeiro cerrado. Provavelmente influenciado pelas histórias à volta do Monstro de Loch Ness e possivelmente também pelas velhas lendas de monstros marinhos contadas por marinheiros desde que existe tal ocupação, o que é nele realmente extraordinário é a forma como Bradbury conduz a narrativa e a enche de poesia sem a tornar pedante ou aborrecida.

Nas histórias de monstros, estes aparecem normalmente para incutir medo no leitor ou na assistência. Nesta história não; o que fica ao terminar-se a leitura é pena. Pena de uma pobre criatura presa na sua solidão de animal fora do seu tempo, desesperadamente à procura de alguma outra criatura da mesma espécie para poder finalmente reproduzir-se. Ano após ano.

Sim, este é um conto magnífico.

Contos anteriores deste livro:

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