quarta-feira, 15 de março de 2017

Lido: Homem das Cavernas

(Ainda aí andam? Desculpem lá a ausência, mas isto foi duro. Trabalho intenso, longo, sem pausas, que me fez ir pondo de lado tudo o não essencial à medida que o cansaço se foi avolumando. Agora que a parte mais exigente terminou, voltamos à programação normal.)

Homem das Cavernas (bibliografia) não se diferencia muito da maioria dos outros contos que Telmo Marçal reuniu neste volume. Trata-se, naturalmente, de mais uma distopia negra, protagonizada por um homem que é vítima das mais abjetas torturas mas acaba por aceitá-las com fleuma, pragmatismo e capacidade de adaptação porque é assim que as coisas são. Já noutros contos se encontra o mesmo tipo de ambiente e protagonista, e as diferenças são de pormenor. Aqui encontramos uma sociedade fechada num vasto complexo de grutas, que sobrevive graças em parte ao que (e aos que) nelas vai penetrando vindo do exterior. Como o protagonista, que um belo dia resolve fazer um bocadinho de espeleologia improvisada e acaba capturado, sujeito a um teste de sobrevivência que envolve ficar sem olhos (e quem precisa de olhos num sítio onde a luz nunca penetra, não é?), que ultrapassa, o que o leva a ser integrado na sociedade em vez de devorado. Depois, segue-se a história da sua vida nas grutas, contada a traços largos e na primeira pessoa, em jeito de depoimento, e do atribulado regresso à superfície.

Não me pareceu ser dos melhores contos de Marçal, este. Creio que o principal motivo para isso é não ser muito credível enquanto possibilidade real. Julgo compreender a inspiração básica, uma adaptação ao tipo de mundos e ambientes que Marçal cria das histórias sobre criaturas perdidas (ou não) nas profundezas das cavernas que surgem com alguma frequência nas histórias tradicionais. No entanto, o motivo por que a maior parte das histórias dele funciona bem é serem credíveis enquanto possibilidades reais. Extremas, certamente, mas há na maioria das histórias um toque de verosimilhança que aqui falta. Ao ler a maior parte das outras histórias, conseguimos imaginar um mundo realmente transformado naquilo no caso de tudo correr horrivelmente mal. Ao ler esta, nem tanto.

Contos anteriores deste livro:

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